Mazzaropi - lenda da cultura brasileira

Mazzaropi: lenda da cultura brasileira

Amácio Mazzaropi foi uma das grandes lendas da nossa cultura. Nasceu em 1912, na cidade de São Paulo. Filho de um imigrante italiano, mudou-se aos dois anos de idade para Taubaté, interior do estado. Lá, cresceu em companhia da família materna, de origem matuta. Sua vivência durante a infância foi uma das inspirações para criação da persona caipira que guiou sua obra.

A importância de Mazzaropi para a cultura brasileira

A carreira desse artista completo foi longa e abrange o período de modernização dos meios de comunicação no Brasil durante o século XX. Tendo começado no circo, passou pelo teatro, foi pioneiro no rádio e na televisão, até chegar ao cinema. Foi ator, apresentador, diretor e empresário. Seu maior legado para as gerações posteriores está em sua produção cinematográfica.

Portanto, conhecer a carreira de Mazzaropi é uma aula de história sobre a modernização dos meios de comunicação em nosso país, sobre vanguardismo e empreendedorismo. Ela nos ensina também sobre a ideia de brasilidade como um projeto a ser aplicado no teatro, rádio, televisão e cinema nacionais.

O início da carreira artística: circo e teatro

Mazzaropi começou no circo, aos 14 anos, na capital paulista. Divertia a plateia nos intervalos das apresentações, contando piadas e anedotas. Em 1933, logo após a efervescência cultural causada pela Revolução Constitucionalista de 1932, realizou sua primeira peça de teatro, “A Herança do Padre João”. Dois anos mais tarde, convenceu os próprios pais a se tornarem atores. Assim, fundou a “Troupe Mazzaropi”, que percorreu o interior paulista com seu espetáculo, uma mistura de circo com teatro. Essa companhia ficou na ativa até 1944. Nesse mesmo ano, o pai de Mazzaropi faleceu e a “Troupe” foi fundida a outra companhia, pertencente a um famoso ator à época, Nino Nello. Com ela, Mazzaropi fez sucesso de público e crítica, atuando como ator e diretor.

A escalada do sucesso: rádio

De 1946 até meados de 1950, Mazzaropi trabalhou na sede paulista da Rádio Tupi, no comando do programa “Rancho Alegre”. Contava piadas e cantava, acompanhado de um sanfoneiro. Foi um grande sucesso de audiência logo nas primeiras semanas de transmissão. Em 1947, junto com outros artistas, passou a apresentar o show de teatro circense “Brigada da Alegria”, que excursionou por vários estados. Trabalhou ao lado de grandes nomes como Hebe Camargo e Dercy Gonçalves, colhendo os louros de seu sucesso no rádio e no teatro.

O primeiro humorista da TV brasileira

Em setembro de 1950, foi inaugurada a primeira emissora de TV em nosso país, a TV Difusora de São Paulo, canal 3. O programa de rádio “Rancho Alegre” ganhou uma versão para a telinha, tornando Mazzaropi o primeiro humorista da TV brasileira. Estava acompanhado da atriz Geny Prado na atração, sob a direção de Cassiano Gabus Mendes e o patrocínio da Philco, o primeiro patrocinador de programas de TV nacionais.  

Em janeiro de 1951, Mazzaropi foi convidado para o programa inaugural da TV Tupi no Rio de Janeiro, sob a alcunha de “o maior caipira do rádio brasileiro”. Seu sucesso foi estrondoso. Ganhou um quadro semanal na TV Rio, que ia ao ar nas noites de quinta-feira. Nesse período, Mazzaropi trabalhava na Rádio e TV Tupi de São Paulo e do Rio de Janeiro, além de também continuar se apresentando no teatro.

Da TV para o Cinema

Ainda em 1951, Mazzaropi foi visto por dois diretores de cinema em um bar em São Paulo. Eles o convidaram para um teste na Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Mazzaropi foi escolhido entre muitos candidatos para protagonizar o filme “Sai da Frente”. Este foi lançado em junho de 1952 e projetou ainda mais o sucesso do artista, que também continuou trabalhando na TV e no rádio. Mazzaropi ficou tão famoso que sua vida passou a ser contada em capítulos, no jornal A Hora. Daí para frente, foram vários filmes lançados seguidamente: “Nadando em Dinheiro” (1952), “Candinho” (1954), “A Carrocinha” (1955), “O Gato de Madame” (1956), “O Fuzileiro do Amor” (1956), “O Noivo da Girada” (1957) e “Chico Fumaça” (1958).

A criação da P.A.M. FILMES

Em 1959, Mazzaropi decidiu arriscar mais alto e criou a sua própria produtora cinematográfica: a P.A.M. FILMES — sigla para Produções Amácio Mazzaropi. Para realizar o primeiro filme da P.A.M., “Chofer de Praça”, vendeu sua casa, carro e tudo mais que podia para alugar os estúdios da Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Além de produtor, Mazzaropi também assumiu o trabalho de lançamento e distribuição de seus filmes por todo o Brasil, controlando na bilheteria o resultado das sessões.

No final do ano 1959, filmou “Jeca Tatu”, seu personagem mais emblemático. Vale lembrar que o Jeca Tatu foi criado em 1918 pelo escritor Monteiro Lobato. Mazzaropi tomou para si essa identidade caipira e suas mazelas de vida, fazendo dela a principal temática de sua obra. Também é interessante pontuar que Monteiro Lobato é natural de Taubaté, mesma cidade onde Mazzaropi viveu sua infância e construiu seus estúdios.

Em 1960, Mazzaropi estreou como diretor no filme “As Aventuras de Pedro Malasartes”, outro personagem tradicional das culturas portuguesa e brasileira. No ano seguinte, estreou seu 12° filme, “Zé do Periquito” (1961).

Fazenda Santa: a construção dos seus estúdios

Em 1961, Mazzaropi adquiriu 184 alqueires da Fazenda Santa, na zona rural de Taubaté. Iniciou a construção do primeiro estúdio da P.A.M. FILMES. Nesse mesmo ano, produziu seu primeiro filme colorido “Tristeza do Jeca”, que foi um sucesso de público e motivo de orgulho para o artista. No final desse ano, rodou seu 14° filme, “O Vendedor de Linguiça”.

No ano seguinte, 1962, foi o cinquentenário de Mazzaropi. Produziu seu 15° filme, “Casinha Pequenina” e foi convidado para apresentar — ao lado de Bibi Ferreira — o programa “Brasil 62”, na TV Excelsior de São Paulo. No final de 1962, Mazzaropi arrematou em um leilão metade dos equipamentos da Companhia Cinematográfica Vera Cruz.

Em janeiro de 1963, “Casinha Pequenina” estreou nos cinemas, revelando os atores Tarcísio Meira e Luis Gustavo. Esse filme foi considerado um épico pela crítica da época. Mazzaropi continuou investindo em seus estúdios na Fazenda Santa e, nesse mesmo ano, importou seus primeiros equipamentos de áudio direto. Também realizou “O Lamparina”, primeiro filme totalmente rodado na Fazenda da Santa. Nos anos seguintes, produziu as películas: “Meu Japão Brasileiro” (1964), “O Puritano da Rua Augusta” (1965) e “O Corinthiano” (1966), que teve sua estreia marcada pela presença da torcida Os Gaviões da Fiel.

A incorporação definitiva de Mazzaropi e sua obra à cultura popular brasileira

Mazzaropi: lenda da cultura brasileira

A obra e a figura pública de Mazzaropi passaram a ser importantes para altas esferas da sociedade brasileira. Em 1968, o então presidente da Academia Brasileira de Letras — Austregésilo de Athayde — escreveu um bilhete para o artista elogiando o seu 20° filme, “O Jeca e a Freira” (1967): “Mazzaropi alcançou, no cinema, o mais alto nível de sua arte. É hoje, sem nenhum favor, um artista de categoria mundial”. Ainda nesse mesmo ano, produziu “No Paraíso das Solteironas”, seu 21° filme e sucesso de bilheteria.

Em 1970, recebeu um prêmio em dinheiro do Instituto Nacional de Cinema (INC) pelo filme “Uma Pistola para Djeca” (1969), outro grande sucesso de bilheteria. Ainda produziu seu 23° filme, “Betão Ronca Ferro”, que retrata a dura realidade dos artistas de circo. É uma película autobiográfica, focada na experiência de Mazzaropi no início de sua carreira artística.

Em 1971, produziu “O Grande Xerife” e, quase simultaneamente, sua primeira película rodada em solo internacional — na Argentina —, “Um Caipira em Bariloche”.  Em 1972, encontrou-se com o então presidente Médici no Palácio da Alvorada. Solicitou maior apoio do governo para o cinema nacional. No ano seguinte, produziu “Portugal, Minha Saudade”, seu 25° filme, rodado no Brasil e em Portugal.

Em 1974, “Um Caipira em Bariloche” foi aclamado pelo importante crítico e intelectual brasileiro Paulo Emílio Salles Gomes: “Mazzaropi atinge o fundo arcaico da sociedade brasileira e de cada um de nós”. O artista e sua obra se incorporaram definitivamente à nossa cultura popular. Nesse ano, ainda produziu “O Jeca Macumbeiro”.

A construção do Hotel Studio P.A.M. Filmes

O ano de 1975 começou com a produção de seu 28° filme, “Jeca Contra o Capeta”. Mas o fato mais marcante foi o início das obras de seu novo empreendimento, uma mistura de lazer com cinema, também localizado em Taubaté.

Numa área de 160 mil m2, construiu um estúdio de 1 mil m2, alojamentos para a equipe técnica e artística, reserva técnica, oficina de cenários, carpintaria e outras instalações. Além disso, construiu também um hotel com 20 apartamentos luxuosos, restaurantes, piscina e lago. Batizou esse inovador empreendimento de Hotel Studio P.A.M. Filmes.

Os últimos anos

Na segunda metade da década de 70, Mazzaropi produziu seus quatro últimos filmes: “Jecão… Um Fofoqueiro no Céu” (1977), “Jeca e Seu Filho Preto” (1977) e “A Banda das Velhas Virgens” (1978). Durante a produção de seu 32° filme, “O Jeca e a Égua Milagrosa” (1979), foi diagnosticado com um câncer de medula óssea.

Em 1980, muito debilitado pela doença, iniciou a produção de “Maria Tomba Homem”, que seria seu 33° filme. Porém, não conseguiu finalizá-lo. Morreu em 13 de junho de 1981, no Hospital Albert Einstein, em decorrência de uma infecção generalizada. Tinha 69 anos.

O legado de Mazzaropi

Um artista essencial da cultura popular brasileira, Mazzaropi deixou como principal legado sua obra cinematográfica. Atualmente, muitos de seus filmes estão disponíveis na íntegra no Youtube. Mas é preciso também ressaltar a importância de seu trabalho para o circo, o teatro, o rádio e a televisão.

Em 1992, a P.A.M. FILMES e sua estrutura na Fazenda Santa — em Taubaté — foi transformada no Museu Mazzaropi. Possui um acervo riquíssimo sobre o artista e a cultura caipira. É aberto para a visitação do público.

O Hotel Studio P.A.M. Filmes — também em Taubaté — transformou-se no Hotel Fazenda Mazzaropi. Sua estrutura inicial foi ampliada e hoje é um famoso complexo de lazer voltado para famílias.

Mas o que Mazzaropi significa para a cultura brasileira é muito maior que isso. Ele faz parte do imaginário coletivo de seu país. Algo que poucos artistas conseguem conquistar.

 

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